O CIRCO PARAKI em Fortaleza!

Hoje o documentário O CIRCO PARAKI viajou para Fortaleza!!!

O filme será exibido por lá num encontro da APAECE – Associação dos Proprietários, Artistas e Escolas de Circo do Ceará.

Obrigada Cristiane Pires pelo contato!

por circoparaki

Festival de circo leva a arte do picadeiro a Piracicaba (SP)

Luanda Lima – EBC 08.11.2012 – 12h52 | Atualizado em 08.11.2012 – 14h03

Imagem: divulgação

Hoje tem marmelada? Tem, sim, senhor! De 8 a 11 de novembro, o município paulista de Piracicaba (a 160 Km da capital) recebe o 5º Festival Paulista de Circo, que reúne 200 artistas e vai promover espetáculos, filmes sobre circo e oficinas para crianças. O evento chega pela primeira vez ao município e arma suas lonas no Parque do Engenho Central (Av. Maurice Allain, 454, Parque do Engenho Central). Clique aqui para ver a programação, que é inteiramente gratuita.

Além de apresentações do circo tradicional e contemporâneo, o festival leva à cidade atrações como corda indiana, trapézio de voo e globo da morte. Enquanto as tendas Piolin, Arrelia e Pimentinha concentram os espetáculos, a lona Carequinha oferece oficinas circenses ao público infantil, que se diverte com tecido, lira, chapéu chinês, cama elástica, malabares, corda e acrobacias. Haverá ainda atividades ao ar livre e paradas circenses com malabaristas, pernas de pau, monociclos e palhaços.

No dia 9, serão exibidos no Teatro Municipal Erotides de Campos (dentro do Engenho) filmes sobre circo. Às 14h30, o público assiste ao documentário O Circo Paraki, de Mariana Gabriel e Priscila Jácomo, e participa, em seguida, de um bate-papo com os personagens retratados na produção. Os visitantes podem ver ainda os longas O Palhaço, dirigido por Selton Mello; O Circo, de Charles Chaplin; Trapézio, dirigido por Carol Reed; e Vida de Inseto, de John Lasseter e Andrew Stanton.

por circoparaki

O Palhaço Xamego

Esta pesquisa foi cercada de coincidências desde o início… se vc descer lá comecinho do blog, vai ver que eu já previa que muitos encontros mágicos iriam acontecer… então…

A outra pesquisadora, Mariana Gabriel, é neta de um palhaço. Sua avó era o palhaço Xamego. Sim, uma avó-palhaço!! Uma avó-palhaço com uma história linda!! A mãe da Mari, dona Deise, fazia força de cabelo, seu tio também trabalhou em circo e seu bisavô era João Alves, dono do Circo Guarani.

Durante toda a pesquisa, perguntávamos para os circenses se algum deles conhecia a família da Mari… muitos diziam que sim e procuravam localizar parentes mas nunca conseguimos pistas muito concretas. A pesquisa tinha acabado, o documentário estava finalizado e só estávamos aguardando a estreia. Até que… numa manhã, dentro do metrô,  começo a ler o livro que Vic Militello havia me emprestado e chego no seguinte capítulo:

PALHAÇO

“O circo Guarani, de propriedade de João Alves, levava as melhores comédias musicais da época. Ele e sua famíla compunham o elenco.

João Alves era ensaiador e ator principal, suas filhas, uma era a mocinha e a outra a caricata, que é como chamavam a atriz que fazia a parte cômica do espetáculo. Interessante porque como o circo fazia uma apresentação por dia e sempre variada, chamava-se de caricata a atriz que também variava nos espetáculos. Não sendo rotulada como humorista, ela também, como o palhaço, se modificava a cada apresentação. Uma das falhas do João Alves era o palhaço da primeira parte. Ela assumiu esse ilustre personagem, por motivo de um grave doença que atacou inesperadamente seu irmão, um jovem simpático que foi deixando seus pedaços em todos os sentidos, na caminhada da vida.

Ela carinhosamente lhe dizia que não deixava o pai colocar substituto, ía fazendo o palhaço, quebrando galho, até o dia em que ele pudesse voltar! Nunca se identificou. Muita gente esperava, na saída, o palhaço que nunca apareceu. Aos mais insistentes, diziam que ele já havia saído…assim que terminara a sua apresentação.

A foto que não foi batida, que fiocu dentro dos olhos e ainda vejo quando rebusco dentro de mim nos meus velhos guardados. O palhaço amamentando o filho que chorava!

No camarim, o menino chorava, ela o amamentava mesmo sem tirar a maquiagem e trocar de roupa. Lá fora muita gente esperava, querendo conhecer o simpático palhaço, principalmente as moças. Engraçado como as moças se apaixonavam pelos palhaços, mesmo sem conhecer o rosto… o rosto é que desperta mais atenção primeiro, talvez a curiosidade por saber quem está atrás daquela maquiagem! ou mesmo pela necessidade de sorrir!

E ela continuou a ser o palhaço do circo, esperando a recuperação do irmão que não

aconteceu nunca… Criou seus filhos – acho que foram os únicos amamentados pelo palhaço!

Ela fez segredo desse trabalho nas praças onde o circo se instalava, nem mesmo os artistas comentavam.

Ela não sabe que sua imagem com as roupas e a maquiagem num passado distante, está sempre presente, marcada na lembrança de uma criança que viu o seio do palhaço!

O Circo Guarani fazia temporadas brilhantes em todos os terrenos centrais da cidade.

Os musicais no picadeiro eram alegres e coloridos e no final entravam todos os

artistas. O encerramento era sempre com um casamento que acontecida exatamente às 23:00 horas. Era comum que o espectador, que acompanhava a temporada, levar os filhos e marcar hora para ir buscá-los. Às 23:00 horas a hora do casamento.

Nessa época, o circo ainda não havia adotado o circo-teatro, eram poucos os que tinham palco. Quase todas as apresentações aconteciam no picadeiro a cena única dos musicais era preparada no intervalo da primeira para a segunda parte. As cenas dos dramas com mais de um ato eram mudadas nos entre-atos.

Se a peça era longa, então suspendia-se a primeira parte.”

Texto retirado do Livro TERCEIRO SINAL de Dirce Tangará Militello

Foi uma emoção só!! Em plena estação Sumaré eu chorava imaginando a cena: um palhaço amamentando uma criança… e não era qualquer palhaço, era a avó da Mari amamentando o tio da Mari!!!

Sim, com certeza em algum momento o palhaço Xamego iria aparecer!! é claro!! e que alegria ler este texto e descobrir que a Dirce Militello, idealizadora do terreno para os circenses, conheceu a avó de uma das pesquisadoras!!

Que alegria estas coincidências todas!!

O Pepin disse na entrevista dele que a Florcita era “palhaça-neta” e achei muito bonito pensar que tem uma família de palhaços dentro dela, e que isso dizia muita coisa e já autorizava de antemão que ela “pintasse a cara”. Sim, a Mari também tem essa família dentro dela… tem um palhaço Xamego dentro dela!!

 

 

 

por circoparaki

Verônica Tamaoki – Centro de Memória do Circo

O primeiro encontro que tive com Dover Tangará oficialmente foi no Centro de Memória do Circo em uma reunião organizada pela Verônica Tamaoki. Agora, depois de toda a pesquisa, fechar as entrevistas ali foi bem significativo.

Verônica nos deu um panorama histórico do circo na cidade de São Paulo.

“Em 1925 sob a palavra de ordem “unidos seremos fortes”, é fundada a primeira Associação da Classe Artística. Estamos ainda na época do sindicalismo livre, antes do sindicalismo do governo, é a Federação Circense. Foi um período de muita luta, onde os circenses buscavam um local para estar, um local para se recolher. Acho que eu nunca senti tanta falta de uma casa dos artistas, de um local dos artistas… o Dover se foi como se foi por não termos um local, acabamos de perder também o Barry e estamos com problemas com o Sr Maranhão que está no hospital, se tivéssemos essa casa dos artistas como no Rio tem acho que muita coisa seria poupada. E é essa busca que vc vai reencontrar em 1990, no caminho da Dirce Militello, vcs vão nos trazer mais informações sobre isso, sobre o que aconteceu. Essa busca por um local, um local p/ os circenses. Aí eu retomo 1925, no dia 25 de março de 1925, reunidos e se articulando aqui no largo do Paissandu, os circenses montam a Federação Circense com um espírito muito grande de luta que vai até 1938.

Em 1934 o sindicalismo do governo toma o lugar do sindicalismo livre, a Federação Circense recua e surge o Sindicato dos Artistas.

Em 1928 com a renda obtida com mensalidades, festivais, bilheterias dos circos que estão associados a federação, joias de novos associados se compra uma chácara circense, aqui no Cambuci. No Boletim da Federação Circense tem até fotos disso. É quase um paraíso, água, poços de água, plantações de pera, de laranja, casas.. o que foi feito disso? Isso acaba sendo passado p/ Cruz Azul em 1938 .

Depois em São Paulo, na décade de 30 temos a Casa do Ator. Um local grande com vários quartos, com igreja e perdemos…Tivemos também o terreno do Anhembi, que antes de ser o Sambódromo seria um local para montagem de circos, eu estive lá porque eu fiz a Academia Piollin de Artes Circenses que funcionou ali ao lado do Vostok, era um terreno grande que comportava 3 circos, tinha uma certa estrutura inclusive p/ cozinha, banheiro, tinha já a ideia de estacionamento… Perdemos… eu acho que foi aí, com a perda desse terreno que foi substituído com a promessa inclusive que o Sambódromo aconteceria em fevereiro e durante o ano os circos poderiam continuar a serem montados ali. E depois isso se transfere p/ lá. Existe tb outro terreno que depois é transferido p/ aeronáutica, ali tb na região norte. E que depois isso se perde e vira os prédios de moradia dos militares que tem ali.

Realmente essa história em relação a terra, porque é o terreno dos “sem terra”, a terra dos circenses é uma história de perdas, de muitas perdas. Perdemos duas chácaras,  a chácara da Federação Circense e depois a Casa do Ator que era uma chácara. Perdemos o terreno aqui no Anhembi, perdemos antes um terreno, eu preciso até rever uma entrevista que eu fiz com o Sr Novaes e ele relembra todos estes terrenos perdidos do circo e que a gente chega no terreno do Cingapura né, que perdemos tb.

Porque vc acha que isso acontece?

A própria organização…de uma classe nômade, de uma atividade nômade.. de uma… aí a gente tem que ir mais fundo até… a Ermínia Silva sempre toca nisso, a arte de agradar o forasteiro que sempre tem que driblar a cidade, o padre, o delegado… e sempre está buscando ser aceito para poder se instalar, para poder armar sua lona. È dif´cil… é quase um estudo da psicologia do circense né (somos estrangeiros o tempo todo…não tem isso de posse… não teve embate..)

Questão da dificuldade em tomar posse daquele terreno? Criar galinha? Plantar? A cabeça do circense é muito diferente!

Aprender a se relacionar com a violência…

Eu lembro do Marcelo que era do Fratelli na época e hoje é do fractons e ele dizia, eles estão lá, nos sem terra, eu nunca vi um termo mais adequado p/ eles, sem terra, não temos terra e é mesmo, na cidade de SP, a coisa do terreno vago. Toda acidade tem que ter um lote vago onde se monta um circo, os lotes vagos em SP estão… o circo da construçõao civil foi muito rápido inclusive com grandes trapezistas na montagem dos edifícios de SP mas essa imagem do circo da construção civil ocupou todos os terrenos e os circenses foram muitas vezes perdendo por incompetência nossa, como a perda da casa do ator, da chácara da federaç~çao circense

Diante do interesse das grandes imobiliárias o circo não é nada

Agora, o secretario calil tem um projeto de montar uma lona, para as cias que passarem p/ ter uma ocupação das cias de circo. Primeiro foi pensado ali na Francisco Matarazzo e aí a associação a diretora da associação foi até bastante desagradável com a classe circense porque o circo ia atrair vagabbundos e marginais. Calil ficou… não sei se dá tempo… de levar esse projeto p/ um terreno em Santana. Até hoje, mesmo com o interesse dos órgãos públicos sente dificuldade dentro da própria população, porque? Porque é o nômade, né? É o cigano, é o que te atrai. Entender isso é entender a psicologia não só do circense mas do próprio brasileiro, Sr Rogê fala com muita propriedade nos chama a atenção quando ele conta a histórias de cidades que se voltam contra o circo, aí ele fala, mas porque? Tanta simpatia, tanta educação p/ depois fazer essa grosseria de um dia p/ outro.

Quando nos inauguramos o centro de memória do circo, nos fizemos um debate de manhã chamado, circo patrimônio cultural e afetivo do Brasil, e realmente é o circo é um patrimônio afetivo, vc descobre isso não precisa ser conhecedor da história do circo, vc sabendo um pouco de musica popular brasileira vc vai ver o quanto o circo é cantado, na literatura, na pintura, as artes são prova de que o circo é um patrimônio cultural e afetivo do Brasil. E na parte da tarde nos fizemos um debate tratando da questão do circo e os animais. Porque vc sabe ne, que existe uma campanha contra animais no circo que é feito de uma maneira preconceituosa ao extremo,porque é circo. Não se questiona a presença de animais no cinema, na propaganda, na televisão mas no circo não pode… é uma coisa bastante preconceituosa. Ao se colocar diante destas duas questões, patrimônio cultural e afetivo e do outro lado é a peseguição, são duas faces de uma moeda só, ao mesmo tempo que tem uma grande admiração, um grande carinho, é quase o que eu digo, é quase entender a psicologia nem do brasilerio do homem! O que te fascina, o que te dá vontade de abandonar isso aqui e fugir com o circo, aliás é uma cois a que tá na nossa própria linguagem, eu quero fugir com o circo, eu quero fugir ddessa vida daqui e ao mesmo tempo isso te..ao mesmo que isso te atrai isso te dá medo. Entender isso é quase entender a psicologia do ser humano, o circo tem isso, é o que está sempre seguindo…

E o dover reprensentava isso o tempo todo, ele era muito querido… o maior trapezista do Brasil…ele encarnou o próprio símbolo do teatro mas de uma outra forma… a mascara do riso e a mascara do choro, que isso está muito forte na figura do palhaço. Oq eu tem de musica popular, em óperas tb que fala do palhaço que ri com vontade de chorar. O DOver encarnou isso tb. O que voa altíssimo. O Próprio pelicano que no céu voa tão alto mas na terra as asas atrapalham o seu andar O dover encarnou essa contradição que está dentro da gente, por isso virou uma figura tão fascinante, não é porque tá fora, é porque tá dentro e ele encarna o que nós vivemos. E ao mesmo tempo essa coisa… o DOver era um nobre, um aristocrata…o Lirio Ferreira está fazendo um filme, eu não sei se ele vai manter esse nome, que se chama Sangue Azul é um filme sobre circo, sobre a história de um homem bala. Quando eu vi o título sangue azul, é o próprio dover tangará ele chegava ao ponto de ser quase aquele personagem da televisão que é o mendigo mas que é um mendigo fino, que sempre está contando vantagem. Ele não era essa caricatura, mas essa aristocracia de quem não tem nada, de quem vive na rua, mas que tem uma dignidade que muita gente bem na vida, bem profissionalmente não tem. Isso está acima do mito que ele criou, do que voa alto demais e que cai. O próprio Icaro, ele é a própria encarnação daquele que voa, que foi muito alto e por isso se espatifou. É muito forte esse rapaz, esse rapaz que nos deixou a pouco tempo. Engraçado, tem um texto do Kafka, a primeira dor, que é sobre um trapezista que eu li e reli… e não conseguia entender e só consegui entender quando eu li pensando no DOver, acho que o Pelicano é do Bodelaire num é? Um poema do Boudelaire. Os grande poetas, os grandes escritores, os gregos…eles tocaram nessa… questão que está dentro da gente né… e que o palhaço tb encarna muito do que ri com vontade de chorar, essa contradição do que voa alto e se espatifa no chão… o DOver foi tudo isso… e uma coisa dele adquirida da família Tangará, vc encontra a Laudi, encontra Vic, Durbes, vc entende de onde vem a aristocracia do dover. Essa aristocracia, este sangue azul, essa nobreza do artista circense. Acabamos de perder tb o Sr Barry, que encarnava isso tb, ele o Senhor Roge, o Senhor Maranhão..eles encarnam isso, essa nobreza.

Eu fiquei na escola de circo por causa disso por causa dessa nobreza, eu falei, eu quero ser isso, eu quero ter essa dignidade. O ODver era uma lição disso, dessa dignidade.

No circo vc é adotado pelos teus mestres, p/ vc passas a fazer parte daquele mundo, vc passa por um processo de iniciação, um processo de aceitação, em uma escola de circo vc precisa passar por esse processo de iniciação, vc precisa ser adotado por um mestre p/ vc ser daquele mundo. Se eu estou aqui é porque eu fui adotada, pelo senhor Roge, pelo Savala, pela Amercy…eu passei a fazer parte, como vc está sendo adotada. Eu passei a fazer parte daquele mundo. Vc não está na escola de circo mas eu sinto que vc está passando por esse processo, vc está sendo adotada pela Marília, pelo Puchy, pela Loren… estas coisas vc pode não estar na academia, não estar aprendendo uma técnica mas isso vc é uma herdeira desse mundo. Como eu sou tb uma herdeira, acho que essa responsabilidade a gente tem forte, de honra-los. De Honrar Dover Tangará, de honrar Dirce Militello, de honrar o Senhor Barry, de honrar o Piollin de honrar esse povo do circo.

Obrigada pelo seu trabalho. Obrigada pelo encontro.

por circoparaki

Vic Militello e Laudi Fernandes

O FIM

Das experiências colhidas

ao longo da grande caminhada, se aprende

que tudo é quase nada…

É o sorriso que foi dado

ao semelhante caído na calçada

É a mão ao amigo

estendida e não negada…

É comparar o passado e o presente.

É ver a flor brotando, colorida,

que nos enfeita na hora da partida…

É se olhar para dentro, consciente.

É ver que tudo começa e acaba de repente…

(Do livro “Terceiro Sinal” de Dirce Tangará Militello)

Foi com este texto que Dirce Tangará Militello se despediu na última edição do Jornal do Circo. “Acredito muito que ela deu sua missão por encerrada. Ela comandou seu coração e parou, como faziam os índios. O velho Tangará, Benedito Marques Ribeiro era índio.” diz Vic Militello, filha de Dirce. “A mamãe sempre se despedia das pessoas dizendo Até de repente…!” diz Laudi Fernandes, a outra filha de Dirce.

A entrevista das duas foi bem divertida. Antes de começarmos, Vic me contou que foi “a Dircinha” (sua mãe) que começou com essa história de duas cantoras cantarem uma de costas para a outra. O que aconteceu foi que um dia, as duas, uma loira e outra morena, se olhando tiveram um ataque de riso. Aí resolveram cantar apoiando as costas… e isso virou moda.” Por acaso, Vic é loira e Laudi é morena e elas estavam quase posicionadas como “a loira e a morena”.

As duas são filhas de Dirce Militello, a idealizadora do projeto do terreno para estacionamento de trailers de circenses. Dirce Militello era irmã de Dover Tangará e além de Vic e Laudi teve mais dois filhos, Carmem e Humberto.

“a mamãe teve a felicidade de saber que o projeto que ela tinha lutado tanto para que fosse reconhecido tinha sido aprovado pelo Quércia que na época ia entrar como prefeito da cidade de São Paulo e ele prometeu que se ele fosse eleito ele ia fazer acontecer esse projeto da Escola Picadeiro p/ todos os bairros de São Paulo. Na ocasião era a Dra Alda Marco Antonio que era a Secretaria de Cultura do Governo Quércia e infelizmente ele entrou p/ governar no dia 1 de janeiro e a mamãe faleceu no dia 10 de janeiro. Ela não pode ver realizado, mas soube que iria existir. Ela ganhou o terreno para realizar a primeira escola neste terreno e o estacionamento de trailers. O Humberto Militello, outro filho dela, é arquiteto e já tinha o desenho pronto pra colocar junto com o projeto. O desenho das cabines, dos dormitórios…era um projeto maravilhoso.” Diz Vic Militello.

Vic Militello

“Toda a nossa família é de circo, desde os Fernandes, os Militello, os Tangará, os Marques Ribeiro…os que descendem deles… a gente abraça uma população enorme de circenses. Até hoje os jovens Tangarás são considerados os melhores naquilo que fazem.”

Laudi Fernandes

Vic conta que Dirce tinha outros projetos p/ circenses, “o próprio Jornal Circo Show era um projeto promovia os circenses. A minha mãe tinha um lado meio assistencialista, meio assistente social, por exemplo ela queria colocar dentes nos artistas, ela achava que um artista sem dentes não pode entrar no picadeiro. Sem uma roupa bonita não pode entrar no picadeiro…. ela lutava por esse lado…  eu sempre lutei mais pela arte do circo, a assistência social tem que ser de outro setor.  Minha mãe batia nessa tecla, com isso ela fez grandes coisas nesse sentido.”

“o velho Tangará”

“A Dirce nasceu no circo. O velho Tangará quando entrou p/ essa história do circo, ele era maestro, ele foi primeiro p banda do circo, antes de casar e de ter filhos, depois ele conheceu a dona Nenê e carregou ela junto, porque ela tb já era de circo, ela é neta de artistas ciganos” conta Vic.

Laudi complementa: “Minha mãe já nasceu no circo. Os circos daquela época nem todos tinham barraca, barraca era uma coisa de status no circo.  Então eles moravam em hoteizinhos, quartinhos abandonados da cidade, eles alugavam por um mês. Quem tinha uma barraca, um trailer já tinha um status maior”

Vic conta que Dirce fez trapézio no circo, “ela fez tudo e ainda cuidava dos irmãozinhos, fazia comida, tinha 9 irmãos, ela teve filho junto com os irmãos, p/ vc ter uma ideia, eu mamei na minha avó e o Durbes mamou na minha mãe. O Dover mamou na minha mãe, é irmão de Leite dela (da Laudi) porque nós temos a mesma idade Eu tenho a idade do Durbes, ela do Dover e a Carminha do Dalton somos irmãos de leite. Minha avó teve 9 filhos.

Dirce Tangará Militello e o marido, o palhaço Chororó

“Meu pai amava muito os Tangarás, cuidou destes irmãozinhos da minha mãe, que tinham a nossa idade, até morrer. Meu pai morreu em 1970, com 51 anos. Nós morávamos na Turiassú, quando eles vinham p/ SP eles vinham lá p/ casa e meu pai amava que eles vinham. Era um paizão, se sentia pai dos cunhados, que eram pequenininhos e ele ajudou a criar.”

“Meu pai é de família imigrante italiana, ele fugiu com o Circo Piollin ele não era de circo, ele é Militello. Os Militello são artistas mas são de outro lado, ele era imigrante, queria ser ator, não sabia o que fazer aí saiu com o circo.Ele foi a pé da Vila Mariana até Santos atrás do Circo Piollin.”

“Os Militellos que foram atores, foram atores depois do meu pai. Ele queria ser ator desde pequeno mas só conhecia circo, então foi fazer circo. Foi um grande ator no Circo-Teatro Liendo. Ele era um galã, ele fazia o Tarzan, o Sansão. E no pavilhão dele ele era ator principal, arrastava multidões. Ele criou um pavilhão. Conheceu a mamãe no Circo Liendo. Aí no pavilhão dele ele fazia o galã e ela a mocinha.Ele era um grande formador de plateia com as peças dele. Onde ele passou com o pavilhão, são os lugares que mais gostam de teatro até hoje, a Vila Mariana, a Barrafunda, Perdizes, Bom Retiro… Perdizes a gente não pode esquecer porque nas Perdizes ele fez muito sucesso. Ele teve os maiores fãs que vc pode imaginar, tem gente que me para na rua  e pergunta vc não é a filha do  Chororó, comenta Laudi.”

Neste momento comento que moro em Perdizes atualmente.

e a Laudi comenta que o pavilhão do Chororó “fez muito sucesso na Rua Cayowaa.”   EU MORO NA RUA CAYOWAA!! Eu e a outra pesquisadora moramos na Rua Cayowaa, somos vizinhas!! Que coincidência!!

e ela comentou “Então vc pergunta para os antigos da sua rua sobre o Pavilhão Chororó, pergunta p/ alguém que viu e conhece essa história, talvez isso explique vc gostar tanto de palhaço sem ter alguma referencia na família.”

Dirce Tangará Militello e Humberto Militello em cena na novela Meu Pé de Laranja Lima da TV Tupi

“O pavilhão era itinerante, era como um circo mas não era de lona, era de zinco, era desmontável. A Avenida Sumaré era um rio, de um lado tinha um terreno onde o papai punha o pavilhão do outro lado já era a rua Turissu. Por ali a gente ficou muitos anos. E na rua CAyowaa ele fez o maior sucesso, o pavilhão ficou 4 meses trabalhando por lá. Ele era rival na época do pavilhão do Simplício, que era o Icaraí. Aí o Icaraí era Globo da época e o papai era o SBT. Acho que por isso que o Gibe gostava tanto do SBT.  O Simplício era a Globo porque era muito chique, e o papai era mais simplório, era o SBT.”

Gibe foi marido da Laudi. Gibe também era palhaço e fez parte da minha infância pois foi o Papai Papudo do Programa do Bozo!

Lembro com carinho do bordão “Que horas são criançada? Cinco e Sessenta.” Foi divertido ouvir a Laudi contar histórias do Papai Papudo. Ela disse que no início ele era bem gordo, o figurino tinha muita espuma. Mas como gravavam muitas horas por dia, ficava muito calor…então ele foi “emagrecendo” o figurino!!

Gibe atuando como palhaço, antes do Papai Papudo.

Laudi conta que o último show que o Silvio Santos fez com “o peru que fala” nas periferias de São Paulo foi no pavilhão do Chororó. “E o macaquinho dele mordeu o dedo da minha mãe, ele quase arrancou o dedo dela.”

Vic conta que nunca gostou de morar no circo, “essa coisa que eles gostam de morar no trailer eu não gostei nunca, eu sempre quis uma casa de tijolo, sabe  eu queria ser a Dóris Day que o marido chega com a pastinha. Eu acho que eu sou muito urbana, não gosto de viajar… agora fui acabar morando em Itanhaém cheio de cobra, de sapo… Eu fui criada com isso mas eu não gostava, eu gostava de uma casa sem bicho, com parede. Aí fui morar na Turiassú. Quando eu larguei o circo era p/ não voltar mais a ser artista, era p morar naquela casa.Eu morei no RJ numa casa sólida, na Turiassú era uma casa sólida, eu gosto disso. Uma casa sólida. Comprei agora no Butantã uma casa sólida. Eu não podia ter isso no circo..”

Laudi comenta: “eu não paro até hoje, cada hora eu to num canto. Depois que eu casei eu fiquei mais sólida que ela. Eu parei e ela continuou viajando.”

“Eles não me deixam ficar, por isso que eu te falei que eu to parando com essa coisa de artista…vc vai fazer um filme lá em Porto Alegre, lá em Minas Gerais… um é frio o outro é calor. A minha vida foi isso, estes 20 anos que eu fique no Rio foi só isso, sair de lá. Agora eu parei em uma casa sólida e quero ficar. Eu não tenho saudade disso. Eu morro de saudade das pessoas, sempre depois do espetáculo, todo mundo comendo junto, parecia sempre festa.  Por isso que eu adoro fimagem, porque filmagem ainda é assim, parece que tá todo mundo acampando, adoro isso.Televisão eu fiz muito mas sempre a contra gosto, é muito horário é muita disciplina.” conta Vic.

LAudi conta: “Quando a gente estava na Rua Cayowaa a gente estava sem moradia, a gente alugava quartos ali, e tinha uma padaria lá. O pão saía meia noite, aí o padeiro vendia p/ gente antes da hora, o pão estava quentinho e a gente comprava a mortadela com o pão quente… isso eu não esqueço… foi uma temporada muito legal…”

Vic comenta: “A lembrança que eu tenho dessa época é que a gente tinha um porquinho que se chamava Fuxico… mas a gente não sabia que eles estavam engordando ele p/ o Natal. Aí no Natal eles mataram o Fuxico… A gente só chorava e ninguém conseguiu comer o porquinho. Porque a gente tratava ele como cachorrinho, aí tinha o porco na mesa com o tomate na boca, era um velório!”

Vic onta que Chororó Papai faleceu muito cedo, com 50 anos. “Ele morreu de mágoa, artista quando começa a ficar esquecido… Ele tinha muita preocupação porque tinha vendido o pavilhão por causa da televisão, aquele envolvimento, aquela fantasia, ele fez muito sucesso na televisão… Ele fez o sargento Garcia, numa novela com a Lolita Rodrigues, com o Aguinaldo Rayol.. ele ficou muito famoso, o personagem fez muito sucesso na época. E depois disso ele foi colocado meio de lado, o canal 9 faliu, a Tupi também e ele não tinha condição de fazer outros canais. Ele tinha vendido o pavilhão em que era o astro principal aí tinha que fazer pequenos papéis no cinema e na TV p/ sustentar a família. Fazem isso com os artistas até hoje. Você faz um baita sucesso e depois eles te colocam p entregar um telegrama em cena, te humilham. Isso foi sufocando ele, porque o artista é muito vaidoso e é muito emotivo tb. Artista é emoção né. Aí ele foi se entregando, foi se entregando, morreu de angustia, morreu de tristeza de ter que calar a arte dele. Porque ele não tinha onde demonstrar e ele era um soberbo artista, morreu precocemente.”

“Minha mãe continuou, depois disso ela fez “Gota d´água”, fez “Ópera do Malandro” no teatro. Fez “Em Família” com o Paulo Autran com direção do Antunes Filho.”

“A mamãe sempre foi a estrela da Cia. Só entrava no brilho, no salto, ela era muito bonita, ela só podia fazer a bonita. Quem era caricata era a a Irma dela. A Adjani era ótima, ela fez tudo mas fez pouco porque o marido casou e parou. O marido não deixa até hoje.Ela fazia quando era pequena e no pavilhão do papai, quando acabou o pavilhão eles tb se retiraram.”

“Quando o papai vendeu o pavilhão a família, cada um foi p um lado tratar da vida.

“Foi uma das razões tb dele ficar angustiado, ele perdeu a Cia dele né, ele criou estes monstros né, depois é difícil pegar outros p/ ensinar. Já tinha a estrela da Cia, já tinha a caricata, eu fazia o brotinho da Cia… Ele perdeu todo mundo… até criar outra Cia com essas características, ele achou que acabou mesmo, ele não achou que ia recomeçar.”

As duas contam que Dirce Tangará Militello teve uma Associação de Circo. “Tudo isso antes do Sated, depois ela foi convidada a representar o circo no Sated, aí ela foi terminando o projeto por lá mas o projeto veio antes.”

“Ela era produtora, diretora, idealizadora. Minha mãe não se arriscava muito numa produção, fazia pequenos financiamentos, pequenas produções…  eu tenho impressão que houve um tempo que a mamãe representou não tinha tanta ajuda, depois da mamae o circo começou a ter a ajuda, depois dela falar sobre o circo.Ela representava muito bem o circo, a porta da TV sempre abriu muito p/ a minha mãe falar sobre o circo, porque ela veio do circo p/ a televisão, então ela tinha muito acesso, e ela falava, ela era a voz do pessoal do circo na televisão. Com certeza as leis de incentivo vieram depois da mamãe. Ela pedia apoio, batia de porta em porta, o prêmio do circo foi ela que criou, o Troféu Picadeiro. Não existia isso, ela e meu tio Decio que criaram.”

“Hoje as pessoas que produzem circo não são de circo, ainda não foi dado o direito das pessoas que fazem circo produzirem circo.”

“A mamãe deu aula de acrobacia, ela era acrobata, ela tinha a técnica. Ela deu aula na Escola Piollin de Artes Circenses. No pavilhão do meu pai ele já ensinava as pessoas, não só os próprios artistas mas todos que quisessem aprender, ele era um democrata, ele não omitia informação. O meu pai falava uma coisa muito bonita: quando levavam um texto muito elaborado, que era de difícil compreensão p/ as crianças da periferia pu p/ gente mesmo…ele dizia: eu trago o texto, ensino e vcs vão se comportar muito bem quando vcs forem lá no Teatro Municipal de São Paulo. Ele era um professor na periferia.Ele era um formador de plateia, esse era o ideal dele. Ele achava que estes teatros itinerantes eram muito bons porque educavam a periferia, hoje em dia a periferia não tem aonde ir. Aonde vai o jovem de 14 anos da periferia aprender teatro e circo? O que ele aprende com a televisão? Hoje em dia aqui na periferia tem os barzinhos, que eles vão aprender a beber, a fazer outras coisas e não vão aprender a fazer nada. Quando chegava um circo, um pavilhão nestes lugares era uma festa. Quando a gente ia embora, eram ídolos formados, os galãs tinham que sair escodidos da loucura das meninas, o palhaço virava um ídolo incrível. Os bordões todo mundo falava.”

“O Gibe tinha uma mania de jogar a bengala no chão e falar “ô susto”. Quando ele saía do bairro a criançada toda falava “ô susto, ô susto…” que nem o “cinco e sessenta”, as crianças eram inocentes, aprendiam e se comportavam.”

“No primeiro dia nestas periferias tinha que revistar, porque era periferia das bravas, no segundo dia, o pessoal já estava bem amolecido aí meu pai levava uma comedia bem rasgada depois uma alta comedia, depois um drama…ia amaciando…aí o público já queria prestar atenção. Quando terminava, os bandidos já queriam trabalhar lá, entregavam a arma, ficavam amigos de todo mundo. Todo mundo respeitava todo mundo era muito bonito o trabalho dele. Ele era um educador, um educador da periferia. Ele era um idealista, tinha um ideal, que hoje em dia eu não vejo. Todo mundo que quer começar, quer fazer televisão porque quer comprar uma casa com piscina e compra mesmo… e depois se afoga porque não dá conta de manter, aí tem que tirar foto nua, faz p/ manter padrão e depois se mata… o artista não tem estrutura p ser jogado aos leões.”

Vic comenta que continua com o ideal do Chororó. “Quero fazer o museu do Chororó, fiz muita coisa em nome da Dircinha. Não é assistencial, é artístico.É trazer p/ nós a verve do artista do picadeiro, o tanto que ele ama fazer aquilo, ele tem uma voz p/ cinco mil pessoas. Tem que ter um diafragma e não perder a naturalidade falando mesmo como se fosse uma ópera, o gestual, a elegância, como se fosse um baile. Essa arte do picadeiro que eu levo p/ palco.”

“O Dover era dependente total da mamãe e quando ele tinha as crises ele dormia do lado dela. Aí ela dizia, eu tenho esse projeto dos artistas porque veja bem o tio Dover, a hora que eu for embora, quem vai cuidar dele? Então colocando os circenses no terreno, ele vai ter sempre a Cia, vai ter segurança…quando ela faleceu, na cabeça do Dover, vc vê que ele não saia da São João, do Paissandu e do terreno… e todos esses projetos depois da mamãe, ele estava sempre envolvido…ele queria fazer a palavra da mamãe valer…”

por circoparaki

O palhaço Fonfom

Conhecemos Fonfom por acaso. Estávamos fazendo a entrevista do Dover no bar do Didi quando vimos alguém conversar com um senhor que estava sentado por ali, quando ouvi que o chamavam de Fonfom, lembrei que tinha lido este nome em vários documentos que a Marília tinha guardado. Na verdade em alguns documentos estava escrito Pompom em outros estava escrito Fonfom. Lembro que perguntei para a Marília se eram dois palhaços e ela disse que não, que eu ia entender quando o conhecesse. Fonfom tem fissura labial, e como sou fono, assim que o conheci entendi o porque da confusão com os nomes. Fonfom tem a voz fanha e quando ele diz o próprio nome causa esta confusão…

Fonfom trabalhou em vários circos, Circo Orlando Orfei, Circo Tihany, Circo Bartolo, Circo Garcia…ele fazia reprises com uma nega maluca.

Dover me apresentou pra ele e disse que eu também era palhaça, e ele respondeu: Que benção! ( e eu pensei quietinha, é mesmo!). Fonfom conta “tem 20 anos que eu moro aqui. Eu saí do Circo Bartolo quando ele parou ali no Sambódromo. Aí a Erundina deu o terreno para o circo e nós viemos pra cá. Aí todo mundo ganhou apartamento. Aí eu tive um problema no joelho e fiquei dois anos de cama e não tive condições de pagar o apartamento, aí me deram essa casa.”

Fonfom fazia muitas coisas no circo,” eu trabalhava de tudo, mão de obra, era bicheiro. Tomava conta de todos os bichos, dava ração, comida na hora certa, no dia certo, injeção, tudo era eu. E eu também era palhaço. Eu era vendedor, aí pintei a cara e virei o palhaço Fonfom. Dançava todos os tipos de música com a namorada, a nega maluca.”

Fonfom não tem mais nada de circo em casa, só algumas fotos. Enquanto ele nos mostrava vimos uma foto antiga dele com uma mula no Centro de Tradições Nordestinas, um terreno que fica bem próximo ao Cingapura.E ele disse “é a Babalu”. Neste mesmo dia, tínhamos ido ao CTN e tb tínhamos visto uma mula… e Fonfom comentou que a Babalu está viva até hoje! Na época era filhote, hoje já é grande…”

Priscila Jácomo

por circoparaki

Dover Tangará

A história de Dover Tangará é um capítulo muito especial. Um capítulo que já rendeu um livro, que já rendeu um documentário e que ainda renderá muitas histórias. Dover Tangará era irmão de Dirce Tangará Militello, a idealizadora do projeto do estacionamente para trailers de circenses que este blog está contando a história.  Dirce tinha idealizado o projeto e faleceu de alegria quando soube que seu sonho seria realizado. Infelizmente o “Estacionamento de Trailers para Artistas Circenses” durou pouco tempo, logo o terreno foi invadido e virou uma favela. Na época em que cadastraram os trailers para que os moradores conseguissem um apartamento no atual Cingapura, Dover, irmão de Dirce, estava internado num hospital psiquiátrico. Ele foi roubado; outra pessoa cadastrou seu trailer e por isso ele não teve direito a um apartamento. Sim, o irmão da idealizadora do projeto quase foi expulso do terreno. Quando o conheci, em abril de 2011, ele morava num fusca, dentro do Cingapura. Na época, ele estava sendo expulso porque o condomînio estava se tornando um CDHU e nenhum carro sem documentação poderia ficar lá dentro. Tempos atrás haviam colocado fogo em suas coisas neste mesmo fusca e por pouco não aconteceu coisa pior, ele acordou e fugiu. Depois de muita luta, de levarmos fotos, livros e de contarmos toda as histórias daquele homem para as Assistentes Sociais da Prefeitura conseguímos que ele ficasse por ali… meio sem querer… como se ninguém percebesse… (Tudo isso eu conto com mais detalhes na página “antes daki” deste blog).

Este ano, quando reencontramos Dover Tangará ele estava vivendo num trailer pequeno, não dentro do Cingapura, mas exatamente no local onde era o terreno destinado aos circenses, bem ali na alça da ponte Júlio de Mesquita. Dover acompanhou toda a pesquisa, participou de todas as entrevistas e foi nosso protagonista. O dia da sua entrevista foi pra mim muito especial. Neste dia, tive dimensão do que aquilo tudo significava. Quando chegamos perto do trailer a sensação era “quero ir embora”, “não quero entrar em contato com isso”, “está pesado demais”. Aquela sensação que às vezes a gente tem, na rua, no farol, embaixo de um viaduto… e que faz a gente apressar o passo, subir a janela do carro, travar a porta… como se pudesse se proteger disso, como se pudesse fugir, como se pudesse excluir aquilo do nosso mundo. Como se o nosso mundo não fosse O MUNDO, não fosse UM SÓ. Então eu estava ali, não tinha jeito de travar a porta e o meu amigo vivia ali. Dover estava junto com uma amiga, a Tati.

No ano passado, enquanto ainda trabalhava como fono num posto de saúde da prefeitura, conheci uma senhora que tinha vivido o massacre no presídio do Carandiru, ela era mãe de um dos presos e assistiu àquilo. Essa mulher tomava remédio psiquiátrico e lembro que um dia, conversando com ela, chegamos a conclusão de que qualquer pessoa que tivesse passado por essa situação não sairia ilesa. Todos, até hoje, temos em nós o efeito daquele massacre. Sabe quando atiramos uma pedrinha no lago e a água reverbera? Se tiver um bichinho perto de onde a pedrinha caiu ele vai tremer mais, os bichos que estiverem mais longe vão tremer menos…mas todo o lago vai perceber que caiu a pedrinha. É como se essa mulher estivesse mais perto da pedrinha, tudo reverberou mais forte nela, eu estava na beirada do lago, também senti o efeito mas em menor grau…

A Tati, amiga do Dover, “está bem perto da pedrinha”. A Tati é efeito de um tantão de coisas que acontecem no planeta e que reverberam nela de um jeito mais forte… ela vive na favela, vive a violência, vive as drogas. Outros homens que estavam ali também vivem bem perto da pedrinha e sofrem o efeito disso tudo.

E foi muito forte quando conversei com estas pessoas. A Tati tem 26 anos e seu sonho é conhecer um cinema. Sonho que foi realizado na semana seguinte, no dia do seu aniversário, quando Dover levou a amiga para assistir uma comédia. Tati contou que viveu toda a invasão. “Nasci na favela do Minas Gás, quando cheguei aqui só tinha trailer, conheço o Dover desde criança, somos bem amigos”. Lena, outra amiga do Dover contou que vive ali há muito tempo “quando cheguei aqui não tinha a ponte, não tinha o Carrefour, só tinha a favela do circo e depois fizeram o alojamento.”

Foi engraçado porque do mesmo jeito eu senti uma “vontade de travar a porta”, percebi que elas também sentiram uma vontade de sair correndo. Foi uma aproximação estranha. Até que, vários filhotes de cachorro apareceram e amoleceram a situação. Todo mundo foi brincar com os cachorrinhos e aí todo mundo “ficou igual”. Neste momento, conhecemos o dono do ferro velho que ficava próximo ao trailer do Dover e junto com ele dois catadores. Um deles, o Paulo, ficou conversando muito comigo, me contou que ele descobriu o que era gratidão. Ele vivia embaixo de um viaduto até que este outro catador foi conversar com ele alertando que ali queimavam muitos mendigos. Ele ofereceu a carroça para rodiziarem o serviço e chamou o Paulo para dormir perto do ferro velho. “Ele salvou a minha vida, hoje a gente é bem amigo.” E o Dover vivia ali, bem perto de onde a pedrinha cai no lago… e foi ali que ele foi morto. Também efeito disso tudo. Efeito da violência, efeito da droga, efeito da desigualdade…

No dia da entrevista Dover nos levou no bar do Didi. Ele fez questão de que a entrevista fosse feita lá porque dizia que o Didi também era artista, tinha gravado alguns cds e eles cantavam juntos de vez em quando.

“Faz muitos anos que vivo aqui sozinho. Passei um tempo neste trailer, vivi na rua e aprendi que tudo vale nada. O que vale é isso aqui, este entretenimento que a gente tem com as pessoas. Só. O resto é o resto, a gente vai deixar tudo aí mesmo, vai ficar tudo aí. Eu já convivi com pessoas de rua que são mais problemáticas, já convivi com muita gente, não me assusto com pessoas, alguns são engraçados, acham que mandam. Não é fácil, mas eu convivo bem com eles. Outro dia conheci um rapaz jovem que dormia lá fora. Me penalizei e chamei ele para dormir no trailer. A Tati também já morou lá no trailer. Porque na verdade eu não moro no trailer, eu estou sempre andando. Eu moro na rádio Atual, eu moro no Memorial da América Latina, eu não moro no trailer.”

” Eu passo quase o dia inteiro no Memorial, tenho amigos lá, quando não vou eles sentem a minha falta, eles gostam de mim. Outro dia o dono do bar perguntou “ué, você sumiu!” e eu falei, “não, é que tem que dar um tempo. Não dá pra ficar em cima, abusando das pessoas, do tratamento que as pessoas nos dão.”

“Vou no Centro de Memória do Circo todo dia, eu saí do circo mas continuo junto com gente de circo, de teatro, de cinema… Agora tenho ido muito no Teatro Oficina. Eu sempre quis trazer o circo para dentro do teatro e por uma questão do destino o teatro foi parar dentro do circo! Sempre gostei de entrelaçar os artistas, o artista de teatro, o artista de circo, todos num só pensamento.”

Sou muito grata por ter conhecido Dover Tangará. Dover me ensinou muito. Ele incluía tudo à vida, sem restrição. Ele não via diferença. Ou melhor, ele só via diferença e se relacionava com tudo, principalmente com “o que está à margem”, com o que é “marginal”. Certa vez, conversando com ele, comentei que não conseguia ouvir o que ele dizia por causa do barulho da marginal e ele me surpreendeu fazendo uma releitura do que eu estava dizendo… “Marginal, vc sabe o que é marginal? é aquilo que fica na beirada e não consegue entrar”. Ele disse que se sentia marginal mas que às vezes conversando comigo parecia que ainda fazia parte do mundo. Sim meu amigo! Você fazia parte do mundo, e que bom que eu pude te ouvir. E você ainda faz parte do mundo. Tudo o que você me causou está em mim, então de alguma forma, você está aqui. No dia do seu enterro, tinham amigos dos mais variados “modelos”, ricos, pobres, famosos, autoridades, artistas, médicos… era uma diferença só.

Falo que o Dover foi a minha Estamira. Estamira foi uma mulher que viveu num lixão no Rio de Janeiro e foi feito um documentário sobre a vida dela. Estamira é destes seres que estão além. Sempre me questiono muito sobre o que é a “loucura”… acho que os “loucos” são aqueles que não foram anestesiados… e sentem demais, percebem demais… e  por isso não dão conta de viver neste mundo…como nós. Estamira dizia que era a “beira do mundo” e Dover dizia que era a margem. Os dois nos colocam questões sobre pertencimento. Sobre o julgar aquilo que faz parte e aquilo que não faz. Os dois viviam em lugares inóspitos, junto dos outros marginalizados, que também eram tidos como “os que não fazem parte”… e que violentamente nos mostram o quanto fazem…

E que por mais que a gente fuja, fique longe, coloque insulfilm no carro, suba o vidro, trave a porta, isto grita e se faz presente. O triste é que ele, como representante dessa margem, foi morto também como efeito disso.

Dover Tangará, o maior trapezista que o Brasil já conheceu, foi violentamente espancado e morreu tetraplégico em um hospital no dia 08 de agosto de 2012.

Priscila Jácomo

por circoparaki

A Família Sbano

Poesia Cigana

“Um dia, lá do Oriente
De onde tudo começa
Partiu meu povo contente
Caminhando sem ter pressa.
Quando partiu? Ninguém sabe
Porque partiu? Ninguém diz.
Partiu quando deu vontade
Porque partiu? Porque quis.

Então aqui aparecemos
Sem nunca saber quem fomos
Nosso passado esquecemos
Só interessa o que somos

O ontem sempre é passado
Amanhã sempre o futuro
Vivemos despreocupados
O hoje que é mais seguro.

Dizer que Pátria não temos
É uma grande insensatez
A nossa Pátria sabemos
É maior que a de vocês.
Sua Pátria é um país somente
A nossa é toda essa terra
Que Deus nos deu de presente
Por nunca fazermos guerra

Somos um povo que canta
Feliz por saber viver
O pôr-do-sol nos encanta
Amamos o amanhecer

E assim sempre de partida
Hora no campo ou cidade
Amamos a nossa vida
Somos Reis da Liberdade!”

Zurka Sbano

Foto 1 -Zurka Sbano Foto 2- alguns integrantes da família Sbano Foto 3 – Zurka Sbano e alguns de seus trabalhos

 Zurka Sbano, o capitão, como era conhecido,  foi citado em praticamente todas as entrevistas. Era ele quem organizava e coordenava tudo o que acontecia no terreno dos “Sem Terra”; junto com os filhos, Marcelo Sbano e Eduardo Sbano, foram os primeiros a se instalar no terreno do Anhembi. “Os Índios Comanches” como eram conhecidos faziam números de laço e chicote em muitos Circos do Brasil. O capitão Zurka Sbano era também presidente do Centro de Tradição Cigana de São Paulo. Tradicional Família Cigana, não viviam em trailers, viviam em barracas. A família era numerosa e tinha acabado de ser contratada para o projeto dos Circos-Escolas que a Bel Toledo e o José Wilson estavam implantando. Os primeiros a se instalarem no terreno do Anhembi , davam aula de circo durante a semana e aos sábados e domingos faziam cachê em circos. Viveram também no terreno do bairro do Limão mas após a invasão, decidiram voltar para o circo.

  O capitão faleceu há alguns anos. Entrevistamos os dois filhos, Marcelo Sbano e Eduardo Sbano e suas esposas,????? e Saadia Marrocos que estavam com o circo no litoral de São Paulo. Eduardo contou que o pai, também ator, queria implantar um Circo-teatro no terreno e criar ali um Centro de Tradições Ciganas.

O Capitão Zurka Sbano

Marcelo Sbano, Eduardo Sbano e Dover Tangará no dia da entrevista

Conhecidos como Índios Comanches, e pelos números de laço e chicote,  Eduardo Sbano e Saadia Marrocos (irmã da Amercy Marrocos) trabalharam em circos grandes, fizeram shows, trabalharam com o Beto Carreiro e fizeram filmes. “Eles achavam que a gente era índio de verdade! O rapaz da rede globo veio falar em inglês comigo! Aí eu disse, pára com isso moço, eu moro ali na Freguesia do Ó. A gente tinha que avisar que só no nosso trabalho é que éramos índios norte americanos. Somos brasileiros!” Eduardo conta que foi ele quem ensinou o Beto Carreiro a estalar o chicote. Conta que viajou pela primeira vez de avião para o lançamento do nome do Beto Carreiro junto com os trapalhões. “Ele ainda não tinha aprendido a estalar o chicote, aí eu fui o dublê, como o lugar do show era muito alto, ninguém percebe,eu coloquei um terno branco!” ” O sonho do Beto Carreiro era ser famoso, aí eu falei, quer ficar famoso? Compra um circo! e ele comprou. Trabalhamos juntos por muito tempo. Fazíamos um show lindo! Fomos para o Rio, fizemos o programa da Xuxa, do Faustão, do Gugu, da Hebe… o Eduardo também fez o filme  “Xuxa e os trapalhões no Reino da Fantasia”.  “Nunca pensei em dinheiro, eu vivo hoje, o amanhã é amanhã. Peguntam se a gente quer apartamento, se a gente quer carro.. o que a gente quer é viver.

Os Índios Comanches

http://youtu.be/lilp1s_owjo..”

Eles nos mostraram documentos muito interessantes da época em que existia o terreno onde viviam os circenses como um Jornal do Brasil, de 5 de maio de 1991 que tinha como título de uma reportagem “Um Seminário Cigano nas margens do Rio Tietê.” Pela reportagem, descobrimos que no terreno também viveram padres.

Segundo a reportagem: “Três seminaristas gaúchos, de 22 a 24 anos, fizeram opção pelos marginalizados, trocaram o conforto de um seminário em Porto Alegre pela dureza de um acampamento de barracas de lona em São Paulo, à margem do poluído rio Tietê, onde estudam, rezam e trabalham sob a direção de Renato Rosso, um padre italiano. Murialdo Gasparetto, Jorge Pierozan e Reni Zanotto chegaram à capital paulista (a pouco tempo…) Sujos, às vezes cheirando mal, eles deixam o acampamento bem cedo para , de ônibus ou a pé, chegarem Às 8 horas no Instituto Teológico Pio XIX, no alto da Lapa, a sete quilômetros de distância.  A Comunidade de Nômades Charles de Foucauld, nome que deram ao seminário de lona, começou a funcionar este ano e é a primeira iniciativa desse tipo no Brasil” (…)

“Ali estão acampadas 30 famílias, com 102 adultos e 46 crianças. Moram em barracas de lona e trailers, sob as ordens do capitão Zurka Sbano, de 69 anos, neto de ciganos do sul da Itália, que abandonou o picadeiro e viagens para fixar sua tenda num terreno baldio. É sob o abrigo da barraca do capitão Zurka Sbano que o padre Renato celebra a missa comunitária, a cada quinzena, sempre às terças-feiras.”

“O visual cigano afasta as pessoas, muitas não acreditam que os rapazes vão mesmo ser padres. A reação começou pela família. “Os parentes escrevem para a gente desistir dessa vida, conta Murialdo falando pelos companheiros. Nas ruas de São Paulo, eles são obrigados a mostrar os documentos com frequência, sempre confundidos com marginais. “No metrô, os passageiros fogem do vagão, quando a gente embarca, porque a roupa suja e o mau-cheiro os incomodam, revela.(…) O modo de vida dos ciganos exige que a gente viva assim.”

“TRABALHO NO CIRCO, TRADIÇÃO QUE VEM DE MUITOS SÉCULOS

Uma das diversões do capitão Zurka Sbano no acampamento é lembrar os bons tempos de sua arte, quase 60 anos de carreira e aplausos em mais de 90 peças. Ele ainda canta trechos da opereta Cabocla bonita, de Viriato Correa, seu sucesso em cena (…) Ao lado de Juracy, sua vizinha e sogra de um de seus cinco filhos, o capitão conta histórias de ciganos e artistas para manter viva uma tradição que as jovens gerações vem abandonando. “Os filhos dos artistas de circo agora pensam mais em estudar, não querem saber de nossa profissão” lamenta Juracy que aos 73 anos resolveu plantar um jardim à porta de seu trailer, sem esperança de retornar suas viagens sem rumo. ” (…)

“Nós agora somos professores de meninos de rua nos circos escolas, informa Eduardo Sbano, filho do capitão, referindo-se a um projeto estadual da Secretaria do Menor”

Eduardo e Marcelo nos mostram também essa outra reportagem, da Revista ISTO É de 21 de setembro de 1994.

Para além do mérito artístico da família Sbano e do capitão Zurka Sbano que foi palhaço, acrobata, ator, diretor e cenógrafo, o que mais me chamou a atenção nestas entrevistas foi relacionar as duas reportagens com a Poesia Cigana escrita pelo senhor Zurka Sbano. Essa liberdade afirmada e anunciada, “partiu porque quis, partiu porque deu vontade”, este grito pelo presente, pelo agora, pelo hoje. Uma liberdade que os ditos “Sem Terra” têm ao não ter terra nenhuma. Já que não tendo terra nenhuma, têm toda a terra! Não pertencendo a lugar nenhum pertencem à todos, e nos pertencem também! Os nômades, desde o século passado são apontados como povos vagabundos, que deixavam sinais de destruição e abandono por onde passavam. Alvos de preconceito isso não mudou muito desde aquela época. A forma como o jornalista descreve os seminaristas que viveram no terreno “sujos, às vezes cheirando mal” como se isso fizesse parte do povo cigano “o modo de vida do povo cigano exige que a gente viva assim”. Por mais que ele relate o preconceito, a própria forma como ele escreve denuncia o preconceito. E na reportagem da ISTO É, de 1994, que conta que “skinheads marcharam pelas ruas gritando “ciganos para as câmaras de gás.”

O que é que assusta tanto no povo nômade? É uma história de séculos vivendo à margem. A própria história do terreno protagonista deste blog que começou num espaço, em seguida foi transferido para outro mas já se sabendo que deveria ser transferido novamente…e hoje ele não existe mais. E quando pensamos também que o primeiro projeto de circo-escola criado em São Paulo foi para “crianças de rua” pela Secretaria do Menor… é uma longa história de margens e margens e margens… Talvez esse medo, esse preconceito esconda na verdade um medo do que nos pertence… do que nos causa vertigem exatamente porque também é nosso… O termo “fugir com o circo”… quem nunca pensou em fugir com o circo? Um circo que passa e detona desejos, oferece novos caminhos, riscos e possibilidades. Um circo que responde a essa necessidade de desequilíbrio, de risco e de audácia que é tão humana, que é tão real. Quando será possível afirmarmos essa nossa necessidade de risco, audácia, desequilíbrio e loucura ? Quando, ao invés de rechaçarmos o que é tão nosso poderemos afirmarmos nossa loucura e vivermos mais alegres?

Priscila Jácomo

por circoparaki